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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Cláudia Andréa Prata Ferreira é Professora Titular de Literaturas Hebraica e Judaica e Cultura Judaica - do Setor de Língua e Literatura Hebraicas do Departamento de Letras Orientais e Eslavas da Faculdade de Letras da UFRJ.

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quarta-feira, 30 de setembro de 2015

A Bíblia Hebraica como Obra Aberta: a Estética como ponte dos Diálogos entre o Sagrado e o Humano

JICTAC/UFRJ-2015
A Bíblia Hebraica como Obra Aberta: a Estética como ponte dos Diálogos entre o Sagrado e o Humano.

Davi Tichiriã Felix de Almeida

Resumo: Segundo Anne-Marie Pelletier, a Bíblia não foi escrita e inscrita apenas em uma conjuntura histórica que explica seu sentido. Ela também se vê às voltas com a história que, posterior ao texto escrito, constitui a sequência de suas releituras e de sua recepção. Nesse processo de interpretação incide também, de geração em geração, o sentido das Escrituras. Da mesma forma, o trabalho hermenêutico já se percebe, desta vez, na origem das palavras que lemos, nas releituras e revisões dos registros e da experiência que geraram, desde o Primeiro Testamento, o texto bíblico.
A grande oportunidade de nosso momento atual é a de receber da hermenêutica filosófica e da lírica literária importantes contribuições para aclarar tais realidades — estas últimas, aliás, foram sensíveis às gerações antigas de leitores da Bíblia. Assim, na senda dos pensamentos ou práticas contemporâneas como as de H.-G. Gadamer, P. Ricoeur ou R.Alter, a exegese bíblica abre-se a dimensões negligenciadas da história e do sentido. Ali se encontram, no seio de nossa modernidade, as vias de acesso para uma “leitura integral” das Escrituras.
A Bíblia Hebraica é, na prática, uma obra aberta. O conceito de “obra aberta” de Umberto Eco, que designa a obra artística, é aqui empregado para entender como pôde a Bíblia Hebraica sobreviver por séculos, sendo lida e apreciada por milhões de pessoas, não necessariamente judias. Em razão da estrutura poética da linguagem usada em muitas partes dos textos bíblicos, eles são “abertos” e podem ganhar novos significados a cada geração. Ser “aberto” significa admitir muitas possibilidades de significado para o mesmo texto.
Destacamos uma possível “origem” dessa dialógica, a fim de demonstrar que uma “leitura integral” combina de fato a “fé” (o conhecimento sensível, segundo BOAL) e a razão (o conhecimento simbólico), num constante processo de diálogo onde um entendimento entre as partes é, de fato, possível. Deixando em evidência a Bíblia, como fonte artística de intelecção de seu tempo, de seu mundo e do mundo contemporâneo, “extra-bíblico”, a partir de si própria: uma visão de certo subjetiva, mas que se faz concreta (e, portanto, objetiva), como toda obra de arte.
O objetivo deste trabalho é a Bíblia Hebraica (o texto bíblico) como fenômeno estético, focando-se nela como fenômeno criativo, inovador e, sobretudo renovador (CHWARTZ), posto que ao ressignificar-se constantemente, seus contextos, ao serem enxertados em outros, análogos ou não, fazem com que, dentro de seus limites como obra, ela se expanda e se flexibilize, através do papel ativo de seus leitores como intérpretes e re-escritores – os quais fazem dela, portanto, uma obra de arte de engajamento (ADORNO e HORKHEIMER), sob a égide da “regra de fé e de prática”.

Referências bibliográficas
ADORNO, Theodor W. & HORKHEIMER, Max. Dialética do Esclarecimento: Fragmentos Filosóficos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985.
BOAL, Augusto. Estética do Oprimido. Rio de Janeiro: Garamond, 2001.
CHWARTS, Suzana. Via Maris – Bíblia Hebraica: Textos e Contexto. São Paulo: Humanitas, 2014.
______. Do Estudo Acadêmico da Bíblia Hebraica. In: Revista de Estudos Orientais. Departamento de Letras Orientais. FFLCH: USP. Campinas: Santos e Caprini. Número 6, 2008. p.39-43.
EAGLETON, Terry. Teoria da Literatura: uma introdução. Trad. Waltensir Dutra. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
ECO, Umberto. Obra Aberta. São Paulo: Perspectiva, 2013.
MALANGA, Eliana Branco. A Bíblia Hebraica como obra aberta: uma proposta interdisciplinar para uma semiologia bíblica. São Paulo: Associação Editorial Humanistas: Fapesp, 2005.
PELLETIER, Anne-Marie. Bíblia e Hermenêutica hoje. São Paulo: Loyola, 2006.

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